Capela Senhora da Aparecida do Convento dos Congregados

content.published 2016-11-23
"Um dos templos mais extraordinários do tardobarroco europeu"

por Eduardo Pires de Oliveira1

É inquestionável que a capela dos Monges, situada no primeiro andar do complexo da Igreja dos Congregados, é um dos templos mais extraordinários do tardobarroco europeu. Bem sei que a expressão que estou a usar é muito, muito forte, mas tenho a certeza absoluta que não há qualquer exagero nela. Perguntará o leitor: o que era esta capela? E porque é que só desde data recente tem sido referenciada e entrado na história de arte nacional?

As respostas são simples. Esta capela é o local para oração que existe em todos os conventos, muitas vezes a meio de um corredor, o que permitia um acesso mais fácil e imediato aos monges. Evitava a necessidade de se terem que deslocar à igreja sempre que quisessem fazer uma oração em espaço sagrado. No caso concreto desta capela acontece uma solucão arquitetónica muito interessante: nas paredes voltada ao lado sul existem dois grandes janelões que se abre para a capela-mor da igreja conventual.

Vejamos agora a segunda: a capela só passou a ser conhecida em data recente [1988] porque anteriormente ninguém publicara uma fotografia, nem qualquer referência escrita que permitisses entrever a maravilhosa obra que ela é. Nem mesmo o livro que Robert Smith dedicou a André Soares em 1972 permitiu mostrá-la aos olhos quer do grande público, quer dos especialistas. O facto de estar situada num primeiro andar, de ser necessário pedir autorização e de se ter que abrir três portas, tornavam-na inacessível.

Do ponto de vista artístico poderá dizer-se que deverá datar de 1768 e que é uma das peças finais devidas ao génio de André Soares, que para este convento concebeu uma série de outras obras, sendo que uma está tratada neste mesmo livro, o cunhal do convento voltado a nascente.

De pequeníssimas dimensões, apenas permitirá a presença simultânea de pouco mais de dez pessoas. Construída em estuque é, apesar das suas exíguas dimensões, composta por todas as partes que normalmente se podem perceber num qualquer templo: nave, cruzeiro com lanternim e capela-mor. O lanternim está situado a meio do espaço. Da mesma forma que as restantes partes está profundamente decorado mas sem, contudo, parecer haver uma sobrecarga de ornamentos. Se nos conseguirmos alhear da sobrecarga decorativa que lhe dá um aspeto quase ilusionista, veremos que, afinal, é uma peça "simples": André Soares "apenas" seguiu uma proposta do teórico italiano André Pozzo. 

Mas esta capela não vive apenas da obra de arquitetura. O retábulo é também notável, podendo-se talvez considerá-lo a obra de talha mais extraordinária que André Soares desenhou apesar de ser de dimensões exíguas. Da mesma forma que outras obras suas de arquitetura, este retábulo pode também ser considerado um exemplo maior da forma de tratar a linha, ora curva na metadade inferior, ora retilínea na parte superior. 

É curioso: apesar do mestre utilizar aqui duas sensibilidades diferentes — a arquitetura é tardobarroca e o retábulo rococó — a qualidade dos dois trabalhos é tão grande que até não sente que há diferenças estilísticas entre ambas as partes!


1 Eduardo Pires de Oliveira, Braga Top-Secret, Segredos de Braga, V. N. Famalicão: Centro Atlântico Lda 2014, pp. 55-56.

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